No início do século XX, o mundo enfrentava desafios intensos: a Primeira Guerra Mundial e a pandemia de gripe amarela marcaram a época. Quando os anos 20 chegaram, trouxeram uma década de euforia e libertação – e Campinas (SP) não foi exceção.

Campinas vivia em seu pleno desenvolvimento industrial, mas ainda se recuperava da epidemia de febre amarela que durou 8 anos no final do século XIX, ceifando milhares de vidas e freando seu desenvolvimento cafeeiro.

O cinema surgiu nos anos 1920 como uma forma de demonstrar o progresso da cidade. Em apenas 4 anos, foram realizados 5 filmes que, mais uma vez, trouxeram a atenção do Brasil para Campinas. Um fenômeno que seria enquadrado como um "ciclo regional" na historiografia do cinema brasileiro.

Mas produzir cinema implica em exibir para milhares uma imagem de si ou de um determinado olhar sobre o outro: uma inevitável construção de uma identidade. Quando surge o primeiro filme produzido em Campinas, João da Matta (1923, de Amilar Alves), a imagem do caipira se manifesta – simbolizando, no imaginário, o atraso, a preguiça e o arcaico.

O que o cinema pode revelar sobre uma cidade projetada para ser uma capital com inspiração europeia, erguida sobre a opressão de escravos e dos caipiras expropriados de suas terras para a produção cafeeira?

Dirigido por Gustavo Padovani e Augusto Spoto, Caipiras nas Telas explora uma perspectiva histórica e antropológica das primeiras produções cinematográficas de Campinas.

Ao resgatar trechos e fotogramas do cinema Campineiro, o documentário é um ensaio sobre o impacto desse cinema de uma identidade cultural conflituosa.